Sunday, May 29, 2005

Visto do alto

A primeira coisa que ouvi hoje foram as palavras "deita, filha da puta, deita". Não foi preciso pouco mais de alguns segundos pra eu perceber o que estava acontecendo: alguém tava sendo preso pela polícia, lá embaixo na rua. Pra se ter uma idéia, eu tava com tanto sono que utilizei o argumento de que imaginar a cena, no relato da minha mãe depois, seria mais emocionante do que vê-la realmente acontecendo, só pra eu poder continuar dormindo tranqüilamente.

Mas a agitação continuava, cada vez mais entoada por gritos mais violentos. Após uma brava luta contra minha preguiça (porra, era ainda meio-dia e meia), consegui levantar e abrir a janela para ver o que tava acontecendo.

Bom, a cena era mais ou menos esperada: dois jovens, que perambulavam pelos telhados do quarteirão em frente ao meu prédio, visando, sabe-se lá, assaltar uma das lojas (moro no centro) ou uma casa, estavam algemados, com umas 3 viaturas e vários policiais tomando parte da situação.

É aí que vi uma brecha para uma reflexão sociológica, bem naquele momento. Eu, privilegiado na sociedade, dispondo de uma vasta estabilidade econômica, me encontrava em um razoável apartamento, vendo o infortúnio de dois indivíduos que provavelmente viviam (e vivem) na imensa parte desprivilegiada, sem qualquer expectativa de ascensão na vida. Porra, pode parecer que estou sendo melodramático demais, mas é a verdade.

Enfim, eu, na parte ALTA da sociedade, os via do ALTO. O apartamento ali também mostrava a minha posição social. Não quero ser demagógico nem nada. Mas aquilo foi como uma flecha no peito de alguém de tanto discurso de igualdade social como eu. É, preciso de atitude..

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